trinta e seis - - estudo para - aurora e os sete meios anões -
levou isilda a casa - também eram meia dúzia de degraus
- tenho que ir auroa - tenho medo que a pequenina acorde
- eu levo-te lá cima
subiram os seis degraus - numa lentidão insana
devar - devagarinho...
como quem não quer chegar ao que a vida destapa - isilda sabia que se enrolava em lençóis já gastos - e que choraria até adormecer - via amenina - aconchegava-se e adormecia com sonhos salgados - era sempre assim
aurora
só queria que isilda entrasse em casa e a deixasse correr para osimaginários meios anões - que de imaginários só tinham a (tal) metade escondida
desceu as escadas
entrou porta dentro - olhou para a cozinha - com cheiro a fritos - decidiu fechar a porta para não ver - e muito menos cheirar
sentou-se no sofá - era um sofá beje - daqueles que se abrem - que são muito baratos no ikea - uma bosta de sofá! - um sofá que a obrigava a sorrir quando o olhava - só porque - mesmo barato - lhe tinha custado os olhos da cara - sentou-se - sorriu-se
pobre isilda - pobre porque não saltava dali! - não passava a tal barreira que nos impõem - mesmo pequeninas - "a vida não é fácil" - "temos que engolir muita coisa" - etc etc etc - ouviamos isto desde pequenas - tens que saber cozinhar - bordar - crochetar - tens que agradar - tens que agradar ao marido que um dia te calhar - assim como se fosse uma roleta - podia ser verde ou vermelho - não sabiamos o melhor - nem nunca saberiamos qual a diferença
esticou as pernas - pousou-as em cima da mesa - encontrada por aí - num lixo bom! - fechou os olhos e tentou recordar o de que bom - já lhe teria passado - e - era sempre naquela altura que o meio preguiçoso aparecia - apenas e só com o seu charme de saber ser
- pelo menos o preguiçoso não seria mentiroso - pelo menos isso - ou não...
tmq
Comentários
Enviar um comentário